“É muito melhor se arriscar por coisas grandiosas, alcançar triunfo e glória, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que não gozam muito e nem sofrem muito, porque vivem na penumbra cinzenta que não conhece nem vitória nem derrota.”

Theodore Roosevelt

quarta-feira, 6 de março de 2013

CHAVES E A DEMOCRACIA


Hugo Chaves

Escrevi, em ocasião anterior, que a morte, muitas vezes, é a libertação de certas pessoas da danação absoluta. 

Explico: Não raras vezes, a morte libera, tanto no homem comum quanto na crítica nacional, o sentimento de consternação e piedade raramente dispensado a alguém no curso de sua existência. Seja por clemência mundana, mero bom senso ou discutível regra de etiqueta social, a morte tem essa facilidade intrínseca de abonar, aos olhos dos homens, os pecados da existência. 

Foi assim com Brizola, por exemplo, que passou de politico senil e ostracizado em vida à condição de paladino da democracia e dos direitos políticos depois de sua morte. Foi assim com Enéias Carneiro, do Prona, que passou de "o lunático" da bomba atômica em vida à condição de coluna moral da esquerda brasileira após a morte. Em vida, segundo a crítica, nenhum deles era digno de nota, ou como queiram, de voto. 

Os exemplos são diversos, numerosos, e, sem dúvida, iconográficos.
  
O Caso de Hugo Chaves, falecido nesta terça-feira, 4 de Março, é relativamente parecido.
  
Chaves, o Tirano e eloqüente "ditador" da Venezuela, era comumente relacionado ao processo retrógrado de retorno ao caudilhismo na América Latina, processo caracterizado pela centralização do poder político nas mãos de um líder carismático e pela não alternância de governo. Em suma, era estilizado como um retrocesso democrático.


Hoje, um dia após a sua morte, diante da comoção nacional venezuelana, a crítica internacional e a chamada "opinião pública", na sanha de vender notícia e de firmar consensos, já inicia o processo de "adocicação" literária em relação à Hugo Chaves. Pura conveniência.

Na verdade, o processo que "elegeu" Hugo Chaves como homem forte da Venezuela, assim como outros acontecimentos de igual calibre, notadamente marcados pela centralização do poder político em um líder popular, constituem um fenômeno moderno que intriga a Ciência Política, justamente, pela controvérsia acerca de um padrão justo e ideal de democracia.

O padrão  ocidental de democracia comumente aceito é diametralmente oposto ao governo caracterizado pela concentração de poder nas mão de um só homem, partido ou bloco político. Vale dizer, é justamente o contrário disso, pois se constitui na pluralidade da participação política e na alternância de poder. 

Mas, a eventual fuga a esta realidade idealizada, é, necessariamente, um retrocesso, um ato antidemocrático?

Temo, ou melhor, acredito clara e jubilosamente que não.

A Democracia, tal qual a conhecemos e internalizamos, surgiu na Grécia em longínquas e remotas circunstâncias, onde, vale dizer, a participação política, célula-máter do sistema democrático, era justamente a efetiva participação direta e individual de cada cidadão. A Ágora, praça pública onde se debatia os negócios de Estado, era aberta ao cidadão e sediava todo o processo de deliberação, votação e medidas políticas do gênero. É justamente a Ágora, o protótipo que modelou o que modernamente se conhece por  assembleia nos dias de hoje.

Implica ponderar, há, de fato, participação política nos dias de hoje?

É possível dizer que vivemos em um sistema democrático?

Esse sistema, tal qual se coloca nos presentes dias, absorve nossa demanda por participação e influencia nos negócios do Estado?

Ora, se, como se sabe, o tradicional conceito e modelo "de governo" que inspirou a Democracia, fundado na participação DIRETA do cidadão, tem se revelado insuficiente para atender estas demandas modernas, (que nenhuma "Ágora" é capaz de suportar), não é possível, a partir dele, atirar a pedra contra Chaves e os novos modelos de governo.

A Hipocrisia dos pseudodemocratas, elegendo os "bichos-papões" da era moderna, deve ser vista com cautela. Se, por um lado, o conceito e a aplicabilidade da democracia está a merecer maior reflexão da comunidade político-acadêmica, é necessário também fixar parâmetros de desalienação das instituições políticas, desmistificando a teoria de que a única forma de triunfar sobre o despotismo e a tirania é a simples concessão de mandatos políticos a representantes cuja procuração em nada os obriga, efetivamente, a servir ao seu representado.

A Idolatria do povo venezuelano a Hugo Chaves, é um alerta desse fenômeno. Por que razão um líder político, dito tirânico chefe do poder, é aclamado e louvado em praça pública?

Será que o povo venezuelano, a despeito da sana de libertação democrática que os nossos vizinhos do Norte e sua patota europeia teimam em empreender contra Árabes, Africanos e Asiáticos ortodoxos, e contra qualquer povo que busque se auto governar, estaria, de fato, na contramão da legítima democracia?

Temo que a Ágora venezuelana esteja mais próxima da Democracia dos gregos que qualquer teatro político encenado ocidente afora.

Terribilis est locus ist!

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